Sempre ouvi essas expressões: "Morrer pra mim mesmo", "crucificar minha carne", " matar meu EU", mas nunca elas fizeram tanto sentido pra mim como agora.
Estou lendo O Homem Espiritual, de Watchman Nee, e cheguei em uma parte que ele fala sobre matar a carne. Engraçado é que ele é radical demais ( uma marca de Nee) quando diz que a nossa carne nunca se regenerará. Ela é incurável. Ele diz: - Não tente ensinar a carne, não tente converter sua carne, crucifique-a, mate-a! Quando li, logo me choquei, pensei: Watchman, não dá pra continuar a leitura, minha carne é crente sim! De repente, uma amiga manda um vídeo pra mim de uma entrevista com a Ana Paula Valadão, na qual ela fala sobre sua dura experiência quando pensava que seu ministério tinha acabado quando foi morar nos EUA, sobre comentários a respeito do fim do Diante do Trono, etc. Um momento marcante é quando ela fala que o Senhor falou que era um tempo de morte na vida dela pra que outras coisas se levantassem e depois, ela mesma ressucitasse ( claro, não no sentido literal, vcs sabem né?). Aí, de repente, meu esposo, Davi, trás um texto do seminário que falava sobre como os filósofos viam o suicídio.
Tudo girava em torno da morte. Que horror!
Voltei a pensar em Watchman Nee e sua conversa sobre a morte da carne.
Realmente, a carne deve ser subjugada. Totalmente subjugada.
Quando falamos em "carne", alguém pensa logo em sensualidade, desejos obscenos desfreados, etc. E isso é carne sim! Mas, vamos enveredar pra algo mais latente que nem sempre reconhecemos como fruto da carne. Nossas razões, nossos sonhos, nossas convicções, nossa interpretação a respeito de alguma promessa de Deus, nossos projetos mirabolantes, nossas proridades, e por aí vai....
Um exemplo claro de quanto somos carnais é a nossa inconstância na santidade, na oração, no jejum e na Palavra. Ora estamos santos e ora estamos profanos. Ora conseguimos orar naquele mesmo horário todos os dias, ora estamos envolvidos em outra atividade. Ora perdoamos, ora nos vingamos. Ora cremos, ora duvidamos. Ora esperamos, ora agimos precipitadamente. Ora somos humildes, ora somos as pessoas mais soberbas do mundo.
Carne.
Para o chinês Nee, carne é o corpo com as concupiscências da nossa alma.
Concupiscência, em minhas palavras, é a nossa tendência pessoal para o pecado, para a sensualidade. Sensualidade é o culto aos sentidos, aos desejos. Cada um tem sua própria fraqueza, portanto, sua própria tendência para o pecado. O contrário de sensualidade é santidade.
Quando páro pra pensar em morte da carne, me dá um certo cansaço porque sei que é um processo doloroso que não nos engrandece diante deste mundo, a cruz nos "apaga" do mundo. Inclusive, o mundo olha para nós como se fóssemos idiotas. A cruz nos aumenta pra baixo. Pode ser que depois de um tempo, Deus nos exalte diante do povo, mas isso não é uma garantia, vai depender da vontade dEle. É só você se aproximar de Deus, é só começar a orar aí já começam os pensamentos de "estranheza" aos valores deste mundo.
Enquanto escrevo, escuto uma pregação de um Pastor do Ministério Ouvir e Crer que está me tocando bastante. Ele discorre sobre a oferta de Caim versus a oferta de Abel. Deus recebeu as duas ofertas, mas a de Abel o agradou. Abel agradou a Deus com seu coração limpo, sem sensualidade. Quantas vezes minha oferta é movida pela sensualidade? quantas vezes fazemos coisas "pra Deus" e não estamos em nehum momento preocupados com a aceitação de Deus? Quantas vezes a Igreja deixa de ser um tabernáculo e passa a ser um compromisso semanal que tenho que cumprir para sair dali mais leve ou rever pessoas?
Que Deus tenha misericórdia de nós!
Agora tem um detalhe: Será que Deus existe mesmo? Será que Deus se importa que façamos as coisas bem certinho mesmo? Será que a Bíblia é esse livro sagrado que o Cristianismo diz ser?
Essa geração está diante de uma grave turbulência: A vulnerabilidade da fé.
Isso já é resultado do Cristianismo sem morte.
Nossas igrejas, a começar pelo altar, estão cheias de concupiscências e ninguém tá nem aí pra isso.
Eu peco; Tú pecas; Ele peca; Nós pecamos; Vós pecais; Eles pecam;
E todo mundo se cala. E todo mundo se ferra. Uma Igreja de "araque". Sem poder ( mas com muito barulho e ativismo), servindo de comédia grátis no inferno.
Não me ausento de tal imbróglio. Somos todos pecadores pela natureza herdada de Adão. Mas o temor a Deus nos faz vencer a nossa própria natureza. A morte da carne sugere exatamente isso! - Mate sua natureza adâmica, diz Watcman.
Mate seus desejos obscenos. Mate sua curiosidade pela vida alheia. Mate sua vaidade de querer aparecer mais que os outros. Mate sua preguiça de fazer a obra de Deus. Mate seu ciúme. Mate sua inveja ridícula que você faz de conta que não vê. Mate sua ira. Mate sua Ministeriolatria ( super valorização do próprio ministério). Mate sua crendice extra-bíblica que não acrescenta em nada o Reino de Deus. Mate seu evento realizado só pra ganhar dinheiro e mobilizar a massa. Eventos que não causam impacto nenhum. Mate seu imediatismo. Mate sua arrogância. Mate sua língua torpe.
Oh, céus! Como é difícil morrer não é? Cansa só de falar.
Porém, quando conseguimos ultrapassar a linha que separa a alma do espírito, a sensação de vitória sobre a morte é impressionante. Estou nesta peleia. Já desfrutei de níveis melhores, e hoje luto contra meu próprio ativismo para manter a Glória de Deus na minha vida. Não quero confundir a obra de Deus com a presença de Deus.
Morramos pra viver! E viver abundantemente!